A Baixa Autoestima, Ansiedade e Depressão: Uma Perspectiva Psicanalítica Lacaniana
- JONAS CORREA
- 7 de ago. de 2024
- 3 min de leitura

A autoestima baixa é um fenômeno complexo que pode desencadear estados de ansiedade e depressão. Na perspectiva da psicanálise lacaniana, essa dinâmica está intrinsecamente ligada ao nosso maior desejo: sermos amados e desejados pelo Outro. Jacques Lacan, um dos mais influentes psicanalistas do século XX, enfatizou que o desejo humano é fundamentalmente o desejo do Outro. Ou seja, nossa identidade e senso de valor são, em grande parte, moldados pela maneira como somos percebidos e validados pelos outros.
O Desejo do Outro e a Formação da Autoestima
Desde a infância, a necessidade de ser desejado e aprovado pelos pais é crucial para a formação da autoestima. Na teoria lacaniana, essa necessidade é representada pelo conceito de "Grande Outro" – uma figura simbólica que encarna as normas, expectativas e desejos da sociedade. Quando a criança sente que não consegue atender a essas expectativas, pode desenvolver um sentimento de inadequação e baixa autoestima.
Esse sentimento de nunca ser suficiente pode persistir na vida adulta, levando o indivíduo a buscar incessantemente a aprovação do Outro. A ansiedade surge como uma resposta a essa constante busca por validação, enquanto a depressão pode se instalar quando o indivíduo se sente incapaz de alcançar o desejo do Outro.
O Ciclo de Ansiedade e Depressão
A baixa autoestima cria um ciclo vicioso de ansiedade e depressão. A ansiedade é alimentada pela preocupação constante em ser aceito e desejado, enquanto a depressão emerge do sentimento de fracasso e inadequação. Esse ciclo pode ser extenuante, levando o indivíduo a um estado de paralisia emocional.
O Processo Analítico e a Reconstrução de Significados
A psicanálise oferece uma via para romper esse ciclo. O processo analítico permite ao indivíduo acessar os significados inconscientes que carrega, muitos dos quais estão enraizados nas experiências e relações da infância. Através da análise, é possível desconstruir esses significados e desenvolver novos que sejam mais congruentes com a realidade atual do sujeito.
Ao explorar o desejo do Outro e a necessidade de aprovação, o indivíduo pode começar a entender como esses fatores influenciam sua autoestima e saúde mental. A análise permite a construção de uma nova narrativa, onde o sujeito pode encontrar formas mais saudáveis de lidar com o desejo do Outro e a necessidade de aprovação.
A Autonomia e a Subjetividade
Lacan propõe que a verdadeira autonomia e subjetividade envolvem um certo distanciamento do Outro. Isso não significa isolamento, mas sim a capacidade de se posicionar de maneira independente em relação às expectativas e desejos alheios. A construção de um sujeito saudável e feliz passa por esse distanciamento, permitindo que o indivíduo descubra quem realmente é e o que realmente deseja para sua vida.
O Amor Próprio e o Amor ao Próximo
O verdadeiro significado da vida, segundo a psicanálise lacaniana, reside na capacidade de amar o próximo e a si próprio. O amor próprio é fundamental para uma vida com sentido, pois permite que o indivíduo ame o próximo de forma saudável e equilibrada. Sem esse amor próprio, o sujeito corre o risco de se anular completamente na busca incessante pela aprovação do Outro, nunca descobrindo sua verdadeira identidade e desejos.
Conclusão
A baixa autoestima, quando não tratada, pode levar a estados de ansiedade e depressão que comprometem a qualidade de vida do indivíduo. A psicanálise lacaniana oferece uma compreensão profunda das raízes desse problema, destacando a importância do desejo do Outro na formação da autoestima. Através do processo analítico, é possível acessar e reconstruir significados inconscientes, promovendo a autonomia e a subjetividade do sujeito. O equilíbrio entre o amor próprio e o amor ao próximo é essencial para uma vida plena e significativa, permitindo que o indivíduo viva de maneira autêntica e saudável.

